O Presente: Uma Dimensão Infinita, Museu Colecção Berardo, Lisbon

2008.Nov

O Presente: Uma Dimensão Infinita
BESart – Colecção do Banco Espírito Santo
curated by: Maria de Corral and Lorena Martinez de Corral

November 24, 2008 > January 25, 2009
Museu Colecção Berardo
Centro Cultural de Belém
Lisbon, Portugal

exhibited works:

  • SpaceJunk  S436cel (2001), 127×151 cm from the SpaceJunk series 2
  • Keyboard 02 (2004) 127×154 cm, from the H2O series

besart1b

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Cosmografia do Deslumbramento e do Lixo, Rocha de Sousa

2008.Nov

link to original post: http://rochasousa.blogspot.com/2008/11/cosmografia-do-deslumbramento-e-do-lixo.html

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Cosmografia do Deslumbramento e do Lixo

Há cerca de cinquenta ou sessenta anos a revista «Colliers» já publicava, pelo imaginário de van Braun, largos conjuntos de projectos dedicados às viagens no espaço cósmico, ou pelo menos entre os planetas mais próximos do Sistema Solar. Alguns desses projectos inspiraram, por fraccionamento, as verdadeiras pistas das primeiras cápsulas tripuladas (com vantagem para os soviéticos, nessa altura) e as possíveis viagens entre planetas. A prudência tecnológica, e as próprias limitações orçamentais, conduziram ao estudo de sucessivos rastreios comandados à distância, usando satélites artificiais capazes de orbitarem a Lua, Venus ou Marte, fase em que se acedeu a importantes conhecimentos sobre esses astros, tendo em conta cartografias decisivas e detecção dos componentes da armosfera, do solo, de uma grande variedade, aliás, de acções robóticas relativas a espectros químicos, por exemplo, cujos resultados eram enviados para a Terra. Pelo uso posterior, ou a par destes métodos, de sondas com meios de aterragem, movimentação e pesquisa, hoje já se pode defender que conhecemos praticamente todo o planeta Marte, além de estarmos cada vez mais informados sobre Vénus, Mercúrio, Júpiter ou Saturno, com exploração paralela dos vários satélies desses astros. De resto, ao lado desta programação que acabou por se estender até ao limite do Sistema Solar, além de sondas atiradas para o infinito, através da nossa Galáxia, o homem foi cumprindo um trabalho de avanço até à Lua, acabando por fazê-lo por intermédio do Projecto Apolo e de sucessivas viagens com astronautas que não só alunaram como trabalharam na superfície do nosso satélite.

Todo este conjunto de acções no espaço exterior à atmosfera terrestre, incluindo uma possível viagem até à superfície de Marte, precisa cada vez mais, no território do nsso planeta e em estações orbitais de carácter experimental e logístico, com astronautas permamentes, trocados em tempo próprio, o que se preparou, agora numa colaboração entre os mais avançados países ligados à exploração do espaço, com instalações entretanto já caducadas. Passou-se para a junção modular de nova concepção, habitáculos com gente a bordo, em rotação, sobretudo pela criação das recentes naves mediadoras, «Vai-vem». Essas naves de ida e vinda transportam vários astronautas, possindo um grande porão, apropriado, para carregamento de partes diversas, muito material de construção ou de sobrevivência, em ordem a cumpir as fases estruturantes da Estação em órbita, à qual atracam os cargueiros/mensageiros, cujos tripulantes convivem com os «residentes», fazendo, por intermédio de um grande braço móvel das naves mediadoras, o transbordo das mercadorias desse ponto para lugares estratégicos, na proximidade do ponto de montagem. Ao longo de todo este tempo, várias décadas, os estrategas de diferentes especialidades, passaram a controlar uma imensa rede de satélites robóticos que giram em torno da Terra, segundo diversas rotas, permitindo alertas de defesa, redes de comunicação e vigilância, a par de outras vias que são mais votados a experiências de retorno.

A imagem aqui publicada, de grande realismo, «imita» certas fotografias tiradas no espaço e em circunstâncias semelhantes. Este género de estações eram as «anunciadas» na «Colliers», nos anos cinquentam, e cujo modelo Kubrick usou no seu filme «2001, odisseia no espaço». Quase tudo, nesse filme, fazia parte de uma invenção decalcada em projectos «possíveis». Mas as chamadas Plataformas de Anel foram por enquanto abandonadas. Tarkoski realizou o seu filme «Solaris» num cenário a condizer com esse tipo de instalação cósmica, embora procurando, entre ruínas e lixo abandonado, desenvolver profundas reflexões sobre o homem, sua existência e situação no Universo. A figuração plástica que nos propõe Miguel Soares reveste-se, para além da sua singularidade enquanto espectáculo, a um tempo histórico do futuro no qual Plaraformas com esta confiuguração anelar, meio construídas ou meios desconstruídas teriam uso. Pode tratar-se de um desastre futuro, lixo em volta da constrção arruinada, assim destinada a vogar no silêncio até qualquer possível aproximação e queda na Terra. Mas as fases de construção chegam a parecer espectáculos assim. Os astronautas engenheiros não pousam as suas «caixas de ferramentas» numa mesa a seu lado, mas apenas no vazio e perto de si. Daqui e dali se recolhem peças, ferramentas, cabos, ligando o que há para ligar, encaixes, desperdícios de facto, consolidação dia a dia, semana a semana, ano após ano. E o que é mais inquitetante é o facto de uma rota orbital diversificada estar hoje carregada de satélites artificiais, restos de naves e de peças, caixas provisórias, tudo na mesma linha de comportamento que foi enchendo o nosso habitat dos mais diversos lixos, vulgares ou cada vez mais perigosos. Os mesmos erros além do horizonte. E talvez um dia, num local longínquo, colonizado pelo homem, espécie superior mas de difícil adaptação a uma profunda mudança de sentido e medida, dado a esta à sua mania de crescimentos apocalípticos.

Rocha de Sousa
10Nov2008

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migso – lakeloop

2008.Nov

02′21”
music: 2004, video: 2008
from ZOOG audio cd, ed. Variz.org, 007den, 2006

migso – science fair

2008.Nov

01′27”
music: 2002, video: 2008
from 002 audio CD, ed. Variz.org, 2002

A estreia nacional das alegorias electrónicas de Miguel Soares, Nuno Crespo

2008.Nov

link to original article: http://dn.sapo.pt/inicio/interior.aspx?content_id=1134155

Primeira exposição individual do artista num museu português
Nuno Crespo
Diário de Notícias
03Nov2008

O trabalho de Miguel Soares faz parte da geração dos anos 90, não porque começa a expor activamente nessa década mas porque os princípios a partir dos quais constrói o seu trabalho se integram numa procura de novos referentes culturais e processuais nas artes visuais que são comuns a essa década.

Esta exposição, como escreve o comissário Miguel Wandschneider, “corresponde a um acto de reconhecimento de um dos artistas mais idiossincráticos e com um universo obsessional mais singular no contexto artístico português das duas últimas décadas.” A obsessão do artista prende-se com a possibilidade de construir um universo baseado unicamente na possibilidade ficcional e artística dos dispositivos electrónicos e virtuais.

O mundo que constrói tem referências na cultura juvenil e no imaginário da ficção científica. Referências estas provenientes não da típica banda desenhada impressa mas da ficção tal como presente no jogos de computador e na realidade virtual. O mundo que se vê surgir nas animações 3D de Miguel Soares é uma tradução do mundo da vida, dos gestos quotidianos e das suas tensões políticas e sociais.

O mundo artificial ficcionado pelo artista já não pertence à herança moderna e inscreve-se num terreno que se situa depois do mundo contemporâneo, o que acontece nestas alegorias electrónicas afasta todas as possibilidades de reconhecimento entre o que aí se passa e os acontecimentos mundanos. O homem que se vê surgir a três dimensões nos ecrãs de Miguel Soares perdeu o contacto não só com a natureza mas com a própria ideia de humanidade dentro e fora de si. O traço mais humano destes trabalhos é a utilização que o artista faz da música e que cria uma camada sentimental e poética em torno destas imagens que doutro modo seriam frias e distantes. A experimentação da imagem a que se assiste nos seus vídeos e animações são sempre acompanhadas da apropriação de músicas e sua manipulação (Tim Buckley, James Whale ou os Sack & Blum têm presença neste universo 3D).

O dispositivo digital é não o que permite a construção das obras do artista, como é instrumento de crítica política. Temas como o lixo espacial que se acumula no universo e cujas consequência ninguém sabe bem determinar (SpaceJunk de 2001), a guerra fria entre os EUA e União Soviética abundante em discursos de poder (Time Zones de 2003) ou a grande alegoria da origem do homem e do planeta (Place in Time de 2005) são pilares que suportam a actividade de Miguel Soares e que a resgatam de ser gestos meramente lúdicos e estéreis de um ponto conceptual e/ou social.

É uma exposição difícil porque obriga o espectador à aprendizagem de uma linguagem nova, com regras diferentes e com resultados nada habituais nos discursos correntes da cultura visual contemporânea.

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Imagens, sons e música, José Marmeleira

2008.Nov

link to original page: http://ipsilon.publico.pt/artes/critica.aspx?id=213015

302346

Animações 3D e vídeos de Miguel Soares exploram as relações entre imagens e sons.
José Marmeleira
Nov2008

Quando descemos até as galerias da Culturgest, onde repousam as animações 3D e os vídeos de Miguel Soares (Braga, 1970) escondidas pelas paredes, a primeira sensação é a de que chegámos a um lugar habitado por sons associáveis ao cinema, à música ou ao jogos de computador.

Situações semelhantes são evocadas nas obras expostas, mas assim que o confronto com estas se materializa, diminui a possibilidade de reconhecimento e diversão: as imagens de Miguel Soares não são muito acolhedoras e estão longe de ser previsíveis.

Comissariada por Miguel Wandschenieder, a exposição centra-se numa retrospectiva de animações 3D desenvolvidas pelo artista, entre 1999 e 2005, e inclui também três vídeos. A especificidade da selecção (Miguel Soares trabalha igualmente com outros meios, como a fotografia e instalação) oferece a este núcleo de obras o seu contexto expositivo “original” e familiariza o público com uma realidade incontornável: a presença da cultura popular, na sua acepção mais contemporânea, na prática dos artistas nacionais.

Algumas animações remetem para situações próximas do imaginário da ficção científica (”Place in Time”, 2005), outras desenham um olhar poético e perscrutador sobre diferentes realidades (o espaço em “SpaceJunk”, de 2001, a história política, em “Time Zones”, de 2003). A figura humana está quase sempre ausente ou surge como uma abstracção, uma memória visual numa profusão de arquitecturas e paisagens. Talvez por isso, mais do que narrarem histórias, algumas obras de Miguel Soares documentam contextos ou situações hipotéticas, como a vida de um planeta (outra vez “Place in Time”) ou os avanços tecnológicos em “Archibunk3r Associates” (2000), autêntico portfólio audiovisual de projectos de tecnologia de ponta.

Ora o que torna singular esta apropriação de diferentes registos audiovisuais (documentário, apresentação publicitária, jogo de computador) é o modo como nela surgem integradas diversas técnicas cinematográficas (movimentos de travelling ou planos-sequência): o resultado é uma interrogação à nossa experiência das imagens. A este facto não é alheio o conhecimento da linguagem do 3D, cuja aprendizagem o artista iniciou nos finais dos anos 1990, bem como a familiaridade com o cinema. Algumas animações, porém, parecem toscas, quase anacrónicas, traindo uma abordagem amadora e intuitiva (ligada à ética Do-It- Yourself ). Não se deve, portanto, falar de um virtuosismo, mas antes de um labor quase artesanal, de amadorista (no sentido de alguém que cultiva uma arte), pleno de invenção e exemplificado nas manipulações de “Your Mission is a Failure (MechWarrior 2)”, de 1996, ou nas relações entre imagens e sons de “Time Zones”.

E aqui chegamos a um dos aspectos marcantes deste núcleo do trabalho de Miguel Soares: o som. Em algumas animações são as imagens que dão origem a uma banda sonora (”SpaceJunk”), noutras foi a música que esteve primeiro, como acontece em “GT”, de 2001, uma das melhores obras em exposição. Os repertórios usados cobrem diversos géneros e ferramentas musicais (colagens, samples) e revelam uma correspondência subtil com aquilo que os ecrãs mostram.

Outro aspecto sobressai: a consciência da energia significante da música, por exemplo, no vídeo “Untitled” (two), de 1999, onde temas do primeiro disco de Tim Buckley servem de “banda sonora” a uma situação registada pelo artista no seu apartamento: uma discussão na rua seguida de agressões físicas. E assim – num percurso possível pela exposição – acabamos confrontados com uma irrupção do real. Que se encontra com os mundos virtuais das animações.

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